A
data de 23 de Fevereiro pode ficar na História do povo mártir de Angola como o
fim do pesadelo da guerra. Com a morte do líder da UNITA, Jonas Savimbi, o
caminho para a Paz parece agora ser uma certeza e um trajecto único para a
ex-colónia portuguesa que pode, finalmente, libertar as correntes e vir a ser
um país verdadeiramente livre e próspero.
Depois
de vários acordos de Paz fracassados em Angola, de entre os quais o cessar-fogo
que chegou a pôr fim à guerra em 1992 e que conduziu o país para eleições
livres, nas quais Savimbi saíra derrotado pelo actual presidente angolano, José
Eduardo dos Santos, e em que o líder do movimento do Galo Negro acabou por não
aceitar a derrota e voltar a fugir para o mato, agora a Paz parece mesmo estar
ao alcance e capaz de se materializar.
Quando foi conhecida a morte do
principal opositor do governo de Angola foram dadas a conhecer várias versões
da sua morte. À imagem dos filmes de heróis americanos, chegou a ser conhecida
uma versão que dava conta de que Savimbi sucumbira depois de levar 15 tiros de
um batalhão das FAA (Forças Armadas Angolanas) e, outra, de que quando se
sentira cercado, o próprio se suicidara. Fontes próximas da UNITA adiantam,
ainda, a possibilidade de o líder guerrilheiro ter sido envenenado por
infiltrados e de ter sido baleado depois de perder a consciência.
A
certeza, porém, é outra: Jonas Savimbi morreu e está aberto o caminho para a
Paz.
Os
números depois da guerra
Angola
pode vir a estar preparada para eleições livres daqui por dois anos, um período
considerado suficiente para desenvolver e consolidar todo um processo de Paz
A
tarefa afigura-se difícil para um país que tem uma taxa de alfabetização na
ordem dos 23%.
Mas
outros são os problemas que Angola tem pela frente: a esperança de vida à
nascença é de 45 anos e 160 mil dos 12,8 milhões de habitantes estão
infectados com o vírus da SIDA. Somente 20% da população tem acesso a
medicamentos essenciais e por cada 100 mil habitantes há só 8 médicos.
Num
país onde se lutou por petróleo e por diamantes, 43% da população (dados de
1996-98) está subalimentada e fixa-se em 42% o valor percentual de crianças
com peso deficiente para a idade, sendo que 53% têm também altura deficiente.
A
desgraça angolana é maior se depois das questões sociais se atentar noutros números.
De entre 90 Estados do ranking dos países mais corruptos do Mundo no ano 2000,
Angola ocupava o 85º lugar e no mesmo ano, cifram-se em 1726 milhões de euros
(1/3 do total) as receitas de petróleo desaparecidas.
Angola
ocupa ainda o 22º lugar na lista dos maiores produtores mundiais de petróleo e
o 20º entre os países com maiores reservas naturais de petróleo. Quanto a
diamantes, entre os maiores produtores Angola está em 5º lugar e a receita do
tráfico clandestino das pedras preciosas oscila entre os 405 e os 486 milhões
de euros por ano.
Num
país que ao longo dos últimos anos “formou” soldados, as Forças Armadas
Angolanas contam com 113 mil homens mas, espalhadas pelo país, existem 7 mil
crianças com menos de 15 anos de idade com o estatuto de soldado.
A
guerra terá feito de Angola talvez o país mais minado do Mundo, com 10-12 milhões
de minas espalhadas e que a qualquer momento podem aumentar o número de
amputados. Oitenta a 100 mil pessoas foram estropiadas. Angola tem 2 milhões de
refugiados.
Ana
Catarina Sá do 11A1, atesta ser “ridículo uma só pessoa ser o
causador de tudo”, entenda-se, da guerra. Acrescenta que não o
visualiza (Jonas Savimbi) “como o responsável”, mas sim como “um
dos responsáveis”. A opinião da Ana Sá sobre o facto de José
Eduardo dos Santos, o presidente angolano,
constar na tabela dos 20 mais ricos do mundo e o povo viver
miseravelmente tem uma simples explicação “o que se passa em Angola
passa-se no resto do mundo”, assegurou.
|
 |
|
|
João
Nuno do 12D1, é de opinião semelhante: “isso acontece em Angola e
nos outros países” e acrescenta que estes incidentes devem-se ao
facto de haver “má gestão de determinados indivíduos que só querem
tirar ganhos para si e não para a população”.
|
 |
Fernando,
aluno do 10B1, afirma que o governo
angolano “pensa mais em proveito
próprio do que no proveito do povo”.
Docente
de biotecnologia e de química, o professor Filipe Coutinho conhece o país
por “familiares que lá estiveram” e revela-se optimista em relação
à paz em Angola e ao rumo das negociações. No entanto acrescenta: “é
pena que os governantes de alguns países não saibam colocar os
interesses do país à frente dos seus”.
|
 |
Uma
outra opinião, de um aluno do 12B2, definiu Jonas Savimbi como “um dos
principais entraves á paz angolana” e criticou ainda a forma como o
revolucionário angolano tentou salvar o seu país, através da guerrilha. Ao
discurso de entendido acrescentou que se matassem “não só Savimbi, mas «desaparecesse»,
por exemplo, José Eduardo dos Santos, o país ia realmente para a frente”.
Fernando
Carvalho, professor de matemática, define Savimbi como “um grande líder”
e acrescenta que os grandes líderes “fazem sempre falta a uma nação”,
e mais, convicto, afirma “a paz não depende só de um homem mas de todo
um processo”.
|
 |
|
|
Ernesto
Sebastião, professor de educação física alega que a permanência da
paz no país angolano “vai passar não pela morte de Jonas Savimbi mas
pela vontade do povo”.
|
 |
|
|
Raul
Emílio, professor do básico, com entusiasmo, refere que Angola “pode
ser independente, não precisa de nada, se conseguirem realmente criar as
estruturas necessárias”.
|
 |
|
|
Quanto
a condições necessárias para um novo acordo de paz ser realizado e
desta vez cumprido, as opiniões não diferem muito umas das outras e,
assim sendo, ficou vincada a opinião quase que em uníssono, que defende
que Angola “sempre reuniu as condições necessárias para estabelecer a
paz” como referiu, entre muitos outros que concordaram, Catarina Sá do
11A1.
|
A
referência ao assassinato de Jonas Savimbi, foi, por alguns rapidamente, e por
outros mais lentamente e com algumas hesitações, clarificada mas sempre no
mesmo sentido “é um território em guerra e guerra é guerra, há sempre quem
morra”, como considerou o professor Filipe Coutinho.
“O
povo angolano foi beneficiado com a morte de Jonas Savimbi”, resposta
predominante em todas as afirmações a esse respeito, que, com mais ou menos
cuidado, todos defenderam.